Sentir-te latente

Sentir-te latente

Um Conto de : Iliely Suzana

Finalmente conclui a edição e catálogo dos vídeos que fizemos naqueles dias do festival de inverno de Campos do Jordão antes da pandemia. É tanta adrenalina e estou tão cansada… fecho os olhos, estiro o corpo sobre a cama de lençóis brancos (a mesma na qual que horas antes fotografei nudes para D.),   jogo fora minhas roupas e junto com elas todos os sentidos. E estou pensando nele. Experimento o leve toque das cobertas roçar a pele, imaginando-o curvado sobre mim movimentando-se penetrante entre minhas coxas abertas em oferenda. Me despi a ponto de sentir que sou tão dele e ele tão meu, que poderia por alguns segundos sair de mim.

Estou em um torpor… tão grande… nem… nem percebo que existe muito ar. Mesmo sem querer eu preciso, estou sentindo necessidade de respirar cada vez com mais força. Sentirei uma dor? Será comedida? Como se o escorrimento vaginal explodisse e espalhasse cada pedaço meu pelos cantos desse quarto esquecido. Aqui, só a fraca luz da lua se mistura ao frenesi dos meus dedos com cheiro de desejo. Esses dedos que escapam molhados da vagina, desse corpo só meu.

Agora… uma invasão de toda essa vida… não tinha me dado conta antes, mas estou sufocando. O fôlego… falta. Estou sendo consumida por uma súbita e desconhecida agonia, meus movimentos estão cada vez mais acelerados, meu corpo se inquieta… um prazer que dói… não sei se imploro por menos ou por mais. Eu não vou abrir meus olhos.

Apenas uma mão ampara a nudez, contornando, apertando, cada curva da minha carne. E apenas minha mão pode sentir cada detalhe dessa calma que vem me invadindo aos poucos, de repente, sem pressa de chegar. Estou aprendendo bem devagar a controlar todo o ar… calma… estou respirando… o falo imaginado é o único que me abraça nesse leito vazio.

Relaxo… estou imaginando o mar tranquilo, refletindo um fim de tarde amarelo, a maré vai e vem… apenas o barulho das águas, o cheiro do sal. Serena… serena me sinto. Como é tola e vã minha tentativa de dominar o que deveria ser uma simples atração carnal.

Mas mesmo o ar comedido, sinto o oscilar cada vez mais forte de meus seios, subindo e descendo mais rápido. Por mais que eu tente me conter, alguma coisa continua pulsando desordenadamente… não me deixa em paz.

E continuo nua, deitada coxas abertas no largo leito do quarto vazio, despida dos meus sentidos, despida de mim. Continuam fechados, os olhos. Sinto apenas o pálido toque dos lençóis e os fracos feixes da luz da lua que invadem a cômoda, invadem meu corpo nu, pelas cortinas da janela…

Estou me debatendo, apertando com força os vibrador dentro de mim. Mais uma vez, não consigo respirar imaginando-o latente dentro de mim.

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